A ação ocorreu na sala de exposições da sede de artes visuais da UFPR, o departamento DeArtes, um cavalate de pintura estava posto no centro da sala com um espelho apoiado, uma música eletrônica experimental tocava no fundo do espaço, eu entrei no salão descalça, usando um vestido branco de malha, meu cabelo longo e solto e na mão esquerda um pote de vidro com tinta preta. Ao chegar até o cavalete sentei em um banco que estava disposto em frente ao mesmo. Olhei no espelho por alguns instantes e coloquei o pote de tinta no chão.
Olhando agora para o público que me assistia, separei uma mecha do meu cabelo e comecei a trança-lo devagar. A ação de trançar essa pequena parte do meu cabelo foi me trazendo uma serie de lembranças muito intensas sobre momento de amargura e ansiedade, onde como uma forma de escapismo tranço pequenas partes do meu cabelo, isso fez com que não fosse possível segurar as lagrimas que viriam a seguir. Quando a trança ficou pronta virei novamente para o espelho em cima do cavalete e peguei o recipiente de vidro que estava no chão, usei o cabelo trançado como um pincel e mergulhei-o na tinta preta. Com a ponta do cabelo escrevi delicadamente a palavra IMPOSTORA sobre a superfície do espelho e logo em seguida se deu inicio o ato de pintar todo espaço espelhado.
O processo de pintura foi lento, gradual e aos poucos toda a tela ficou coberta de tinta preta, exceto um pedaço do lado esquerdo, uma pequena bola com o diâmetro de um olho. Esse pequeno furo na escuridão da tinta preta se tornou um espaço de atravessamento, onde era possível se enxergar, mas somente lá, nesse pequeno circulo. Ao fim da ação levantei e me retirei da sala expositiva.